quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

RELIGIÃO, ECUMENISMO E COBELIGERANCIA

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A polêmica envolvendo Kleber Lucas no terreiro traz à tona o debate envolvendo tolerância, ecumenismo, sincretismo e outros assuntos relacionados.
Sou completamente a favor do Estado Laico, pois Igreja e Estado são instituições diferentes. Não sou relativista, tenho minhas convicções teológicas mas penso que não devo querer impô-las a força aos outros. Logo, deve haver espaço para a liberdade religiosa. Deve haver convivência pacífica entre as religiões.
Sou a favor de debates saudáveis e respeitosos, seja entre membros de vertentes do cristianismo seja entre religiões diferentes. Não creio que todos somos irmãos na fé, pois isso seria relativizar minha cosmovisão. Todavia, penso que todos somos irmãos na humanidade. Todos somos a imagem e semelhança de Deus. Porém, não sou a favor do ecumenismo. Como no caso ocorrido, estava sim ocorrendo um culto aos orixás. 
Não faz sentido um protestante ou um católico participar de tal pois vai contra a ortodoxia cristã. É diferente de quando vemos, por exemplo, debates sobre temas envolvendo religiões em programas televisivos onde são levados representantes de diversas vertentes. Sem querer ferir crenças, mas vejo as religiões de matriz africana mais ligadas ao politeísmo do que ao teísmo cristão. Porém, pensar assim não me dá o direito de agir com preconceito e apoiar atos de violência contra tais pessoas. 
O que levou ao ato polêmico do referido pastor e cantor e da pastora luterana de participar de tal evento foi a ação criminosa de depredação de um terreiro. O que também não faz sentido para o cristianismo. Eu lembro da passagem de Lucas 9:51-56 quando os samaritanos não quiseram receber aos discípulos. Os discípulos perguntaram a Jesus se ele queria que eles orassem para Deus mandar fogo do céu para matar os samaritanos. Jesus de maneira alguma relativizou a atitude dos samaritanos mas repreendeu os discípulos:

"Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia."
Lucas 9:56

Se por um lado Jesus se mostrava conservador quanto a assuntos como salvação, condenação, pecado e santidade, por outro lado andava fazendo o bem a todos e ensinava as pessoas a serem mais humanas. O que pode ser mais humano do que amar ao próximo como a ti mesmo? E o que dizer do amar aos seus inimigos?
Talvez hoje Jesus chocaria tanto liberais quanto fundamentalistas.
E finalmente, Jesus está acima da religião. A religião é importante mas Jesus é maior. 
Mas o que é religião? Pela Bíblia, religião é:

"A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27
A primeira parte fala de caridade, de fazer o bem ao próximo. Neste sentido, até um ateu que faz caridade pode ser considerado religioso. 
A segunda parte fala de santidade. Por mais que nem todos abracem o conceito cristão de santidade todos temos o sentido de certo e errado. Todos sabemos que o certo precisa ser feito e o errado evitado. Todos possuímos o "senso de divindade" e a Graça comum. Neste contexto 
surge o conceito protestante de cobeligerancia. 

Antonio C. Costa nos mostra a diferença entre cobeligerancia e ecumenismo:

“Outro risco grave é falta de uma interação da igreja com o restante da sociedade no combate aos males sociais que afligem a todos. Percebe-se uma atitude anti-séptica por parte de igreja quando se trata de se juntar a um não-crente visando a obtenção de uma conquista social qualquer. 
A igreja confunde muitas vezes cobeligerância com ecumenismo. A Bíblia aprova o primeiro e condena o segundo. Este é sempre danoso e irracional.  Leva a igreja a menosprezar o que Cristo fez na cruz, ao dizer que o homem pode chegar ao céu pelos seus próprios méritos.
Falando a partir do ponto de vista intelectual, um absurdo, pois duas religiões que ensinam coisas diametralmente opostas podem ambas estar erradas, mas jamais certas ao mesmo tempo. Já o princípio da cobeligerância é bíblico, pois trata-se de cristãos se unindo a não-cristãos na luta por uma causa que lhes é comum (um exemplo disso é a interação do apóstolo Paulo com não-crentes no naufrágio relatado por Lucas em Atos capítulo 27 em diante). 
Ora, há um mundo de coisas que queremos e reivindicamos que não-crentes querem e reivindicam também. Não estamos lidando com marcianos (embora admitamos a diferença entre cristãos e não-cristãos), mas com pessoas que foram criadas à imagem e semelhança de Deus.
O necessário combate travado contra o nazismo na Segunda Grande Guerra, por exemplo, levou para a trincheira crentes e não crentes, que lado a lado enfrentaram um inimigo que lhes era comum.

A igreja deveria estar na vanguarda das lutas sociais em nosso país. Aliás, essa é uma das suas missões, pois será que há outro povo na Terra mais apto a conhecer as intenções de Deus? será que há alguém que deveria se indignar mais do que o crente quando a vida humana é vista como espoliada daquilo que lhe é fundamental para a preservação?
Em muitas ocasiões, esse combate deve conduzir a igreja à união com pessoas que não professam sua fé a fim de enfrentar adversários que ameaçam a todos. Se faltasse água no prédio onde você mora, e um ateu juntamente com um espírita o procurassem para estar na assembléia do condomínio a fim de tratar da questão, você diria para eles – “vão embora, vocês não professam minha fé?”. Você acha que seria sensato um crente se trancar no quarto para tão somente orar pela questão?”


Voltando a religião, as atividades de fazer o bem ao próximo da religião, por exemplo, são importantes mas são incapazes de gerar salvação. Para exemplificar isto, imagine um criminoso no tribunal tentando se justificar dizendo que não pode ser punido por seus crimes por praticar obras de caridade. Isso não faz sentido, não é verdade?

Da mesma forma, nossas boas obras são incapazes de nos justificar perante Deus. Mas Cristo é suficiente, Ele é capaz. Por isso digo que Ele está acima da religião. O lado espiritual das religiões mostra os homens tentando se religar com o divino. O evangelho mostra Deus indo em busca do homem
perdido. Deus é o próprio ponto de partida, Ele quem enviou Cristo para morrer por nós pecadores. Quem crer será salvo.

"Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo homem."
1 Timóteo 2:5




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